Andaimes do Pensamento

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Andaimes feitos de bambu

sábado, 27 de outubro de 2012

O Tempo e a Dor (ou Quase 12 Anos)


Para tudo há uma ocasião certa; há tempo certo para cada propósito debaixo do céu: Tempo de nascer e tempo de morrer…
Eclesiastes 3.1,2

“Só o tempo vai curar essa dor.” Ouvi diversas variações dessa frase desde que minha esposa morreu, a pouco mais de um mês. É uma frase verdadeira, mas apenas em parte. O tempo sozinho não cura. Ele é um ingrediente importante, mas não único. O mero passar do tempo não cura. Os eventos da vida que vêm no correr do tempo impõem a nós o continuar, o agir, o avançar. O tempo associado às amizades, à oração, à reafirmação das certezas bíblicas ajuda na cura. Mas não é uma cura linear. Há dias melhores, dias piores. Podemos encontrar amigos e rir de velhas piadas em um dia, e no outro nos rendermos às lágrimas pela lembrança de um gesto simples da querida esposa que não mais está aqui para repetir tal gesto.

Sinto-me premido entre dois tempos: (1) Há um pouco mais de um mês minha esposa faleceu; (2) hoje (dia 15/07) faríamos 12 anos de casados.

O sábio escritor de Eclesiastes disse que há tempo para tudo. O meu tempo com Keila foi quase 12 anos. Alegrias e tristezas, derrotas e vitórias, decisões erradas e acertadas. Mas todo o tempo foi regado de muito amor e amizade, de compromisso renovado e companheirismo. Em mim fica a sensação de que esse tempo passou muito rápido e que foi interrompido cedo demais.

O tempo cura a dor, mas agora é o tempo da dor. Mas o tempo da dor é também o tempo da gratidão. Sou grato pelo privilégio de desposar uma mulher sábia. De ter sido tantas vezes socorrido por sua sabedoria, corrigido por sua justiça, fortalecido por sua firmeza, me alegrado por seu sorriso. Sou grato por esta mulher tão especial ter desposado um jovem tão arrogante, que tanto teve de aprender ao seu lado. O tempo ao seu lado foi um tempo para experimentar a graça de Cristo de uma maneira única.

Não sei quanto tempo demorará esta mistura confusa de dor e gratidão. Espero que este seja também um tempo de cura, de fortalecimento e de orientação do alto sobre o que devo fazer daqui pra diante. Obrigado, Senhor, por esses quase 12 anos!

Publicado no boletim da Igreja Presbiteriana "Tanque de Betesda" em 15/07/2012

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Gratidão



Assim, permaneçam agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor.
1 Coríntios 13.13

A dor é um desses momentos em que nos vemos mais tentados a ceder a fraquezas como pânico, angústia, incredulidade ou revolta. Em meio à dor de ter perdido de maneira tão abrupta a minha querida esposa, Keila, não quero ceder a uma fraqueza particular: a ingratidão. Tento alimentar meu coração com a certeza de que o preceito bíblico de dar graças a Deus em tudo não perdeu a sua validade, mesmo no luto. Desejo ser grato a Deus pela maravilhosa mulher que Ele me deu, que tanto fez por mim e por nosso filho. Incentivadora, carinhosa, amiga – tantas qualidades em uma pessoa única.

Mas a minha gratidão ao Criador vai para além daquilo que me beneficiou particularmente em minha relação com Keila. Sou grato pelas dádivas espirituais com as quais o Pai, através da graça de Cristo Jesus na força do Espírito Santo a revestiu para a vida eterna. Sou grato por todas as manifestações destas dotações na vida de Keila, e por tantos outros além de mim foram por ela abençoados.

Sou grato a Deus pela fé que acompanhou a vida da Keila. Palavra pequena, mas com tantos importantes significados, fé é basicamente convicção. A certeza da salvação, não por méritos pessoais, mas pela obra de Cristo na cruz, foi uma marca fundamental em tudo que Keila realizou. Ela confiava em Cristo, depositando nele seus pecados e recebendo a promessa da vida eterna e o selo do Santo Espírito. Mantida por esta fé, Keila também zelava pela fé enquanto deposito de doutrinas que foram reveladas por Deus para formar Cristo em nós. Ela amava a Palavra de Deus.

Sou grato Deus pela esperança que alimentou os planos de Keila. Como crente em Cristo, Keila usou deste mundo e nele sofreu, como parte da criação decaída. Mas o fez na esperança de que Cristo cumprirá sua preciosa promessa. Ele retornará a este mundo que o levou à cruz, não mais em estado de humilhação, mas em sua plena glória, como Rei do universo, que por Ele será redimido. Keila alimentava seu coração com esta promessa e servia o Reino dos céus em tudo que fazia, esperando o galardão que o Pai bendito dará a todos os redimidos em Cristo.

Sou grato a Deus pelo amor que tão prodigamente se manifestou na vida da Keila. Deus nos amou primeiro, amou o mundo pecador e decaído, rebelde e empedernido. E no seu amor trouxe a redenção em Cristo. Keila era profundamente tocada pelo amor de Cristo por si. Sendo tão inexplicavelmente amada dele, procurava amar tudo que seu Senhor e Rei ama. Amava os pecadores ainda perdidos e amava os alcançados que fazem parte da igreja. É com esse amor vindo de Jesus que Keila fazia tudo em sua vida.

Ergo a minha voz e pensamento em oração a Deus para dizer obrigado pela fé, esperança e amor que tanto marcaram a vida da minha esposa. Convido você a juntar-se a mim em ação de graças.

“Deem graças ao Senhor, porque ele é bom. O seu amor dura para sempre!” (Salmo 136.1)

Rev. Ricardo Henrique da Silva
Publicado no Boletim da Igreja Presbiteriana "Tanque de Betesda" do dia 03/06/2012