Andaimes do Pensamento

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Andaimes feitos de bambu

domingo, 17 de abril de 2011

Os Presentes e o Roubo

O feriado cristão mais popular e celebrado é sem dúvida o Natal. O nascimento de Cristo é o acontecimento histórico do calendário cristão mais apropriado para festas, trocas de presentes, celebrações grandiosas, cantatas e outras coisas tais.

O outro feriado cristão que recebe mais reconhecimento depois do Natal é a Semana Santa, ou a Páscoa, que acontecerá neste mês. O conjunto histórico de eventos que envolve a condenação, morte e ressurreição de Jesus é lembrado e celebrado, mas geralmente sem a mesma intensidade do Natal. Pelo menos um elemento distingue os dois feriados: Não há presentes na Semana Santa.

Algo que talvez justifique em parte esta visível diferença seja o fato de Jesus ter sido presenteado no nascimento, mas roubado na morte. O Evangelho de Mateus nos informa que Jesus, ainda em tenra infância, recebeu uma comitiva vinda de terras distantes, constituída de sábios desejosos de prestar culto ao prometido Rei dos Judeus. Trouxeram presentes que representavam não apenas a opulência das suas nações, mas também a preciosidade da missão do Ungido do Senhor.

Já na cruz, Cristo é roubado. Seus bens básicos, suas roupas, lhe são tiradas pelos guardas, que as repartem entre si, lançando sortes, e assim, cumprindo o que havia sido predito pelas Sagradas Escrituras (Salmo 22.18). Jesus não teve bens, não acumulou patrimônio. Não tinha casa própria, pois declarou não ter onde reclinar a cabeça (Mateus 8.20). Não tinha economias reservadas, pois não dispunha de denários suficientes para comprar pão para a multidão (Marcos 6.37), nem para pagar o imposto (Mateus 17.27). Quando precisou de transporte, usou barcos que lhe foram emprestados (Mateus 8.23). Se não fosse pela generosa oferta de um homem rico chamado José, Jesus não teria sequer um lugar para ser sepultado com dignidade. Seu corpo seria lançado em uma vala comum a criminosos, numa espécie de aterro sanitário. Talvez o único bem de valor que Jesus possuía fosse a túnica que usava quando foi preso no Getsêmani, uma roupa especial usada para celebrar a última Páscoa com seus discípulos.

Pois até este último bem lhe foi extorquido na cruz. O Filho de Deus foi exposto nu diante dos olhos dos que lhe ridicularizavam. Nada tinha de si, e o pouco que tinha lhe foi espoliado.

Esta é uma marca da diferenciação entre o Natal e a Semana Santa: no primeiro, temos a manifestação da riqueza de Deus, presenteando o mundo com seu maior tesouro, o Filho de Deus, que é reconhecido como o verdadeiro Rei através de ricas dádivas. No segundo, temos o Filho de Deus sendo considerado um criminoso, sem direito sequer a cobrir-se com suas próprias roupas.

Mas a Semana Santa não termina no espólio, mas na ressurreição! Ao terceiro dia, os discípulos constatam que as faixas que envolviam seu corpo foram deixadas no sepulcro. Mais tarde Jesus apresentou-se a eles, não com suas últimas vestimentas, agora em posse de seus algozes, mas com vestes que resplandeciam a sua glória.

Jesus se deixou extorquir para que pudesse em seu sacrifício restituir o que o pecado nos roubou: a dignidade de sermos filhos de Deus. Assim como as roupas roubadas não lhe fizeram falta na ressurreição, nada desse mundo, por mais rico que seja, nos acrescentará algo na hora em que o Filho de Deus nos resgatar e verdadeiramente nos presentear, revestindo-nos de sua glória eterna.

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